14/06/11

Procrastinação - as consequências

Quando uma pessoa se levanta de manhã (ou à tarde, depende do horário que tendes), geralmente levanta-se ensonada, sem qualquer tipo de vontade de começar o dia. É humano. Aliás, as três coisas que nos separam dos animais são polegares oponíveis, razão e a capacidade de procrastinar. E, mesmo assim tenho dúvidas terríveis em relação à razão.

Aqui há tempos, disse a afamada frase "só mais cinco minutos" cerca de cinco vezes, na cama. Resultado: atrasei-me para apanhar um autocarro. Ora, isto não seria mau de todo, considerando que há vários autocarros ao longo do dia. Pois, mas o próximo só seria daí a cinquenta minutos, altura exacta em que teria que estar num sítio. Ora bem, já prevendo um atraso relativamente grande, resolvo pensar em alternativas ao autocarro. Como era para ir para Lisboa, as alternativas eram ir de autocarro até Cacilhas e, lá, apanhar um barco até à Margem Norte. Ora, foi o que resolvi fazer, um pouco mais descansado em relação ao meu atraso. Ora, fui para uma paragem onde costumam parar muitos autocarros e, quando estou quase a chegar, vejo que já lá está um. Poderia correr para o apanhar, mas passam tantos que nem julguei valer a pena.

Oh, meu amigo, o que tu te enganaste!

Passaram cinco minutos e nada de autocarro. Passaram dez minutos e só eu e uma velhota, que ainda hoje tenho as minhas dúvidas se a mulher estava viva ou não, estávamos na paragem. E nada de autocarro. Só ao fim de dezassete minutos e dois valentes puns dados pela senhora idosa, é que chegou o autocarro. Fui para Cacilhas, todo pimpão e - oh o jubilo! - está um barco lá mesmo à minha espera. Ora, parece-me óbvio que já tinha tido demasiado azar nos transportes para não correr para aquele barco. E foi o que fiz, corri com todas as minhas forças e o passe não validava. Tentei outra vez, nada, luz vermelha "Erro na leitura, tente novamente". Três, quatro, cinco, seis, sete, dez vezes. Nada. Ouço as portas a fechar. Olho para a frente e vejo aquilo já fechado, mas ainda a sirene irritante. Olho para trás. Ao lado de um segurança que se ri a bandeiras despregadas do que me estava a acontecer, uma porta a fechar lentamente, também ela a rir-se de mim, a porca!

E foi isso. Perdi o barco. Apanhei outro, passados vinte minutos. Completamente desencorajado, resolvo enviar uma sms à pessoa com quem me ia encontrar dentro de poucos minutos, a dizer que ia chegar um bocado atrasado, mas que esperasse por mim. "Falha no envio". Quatro falhas depois, a bateria do meu telemóvel morre. Claro. Nem esperava outra coisa.

Apanho, como que por um milagre, um metro que já lá estava de portas abertas. Não sabendo muito bem onde é o ponto de encontro marcado, resolvo perguntar a uma senhora com um aspecto simpático que lá estava onde é que devia sair. A senhora diz-me que não sabe também e que se mudou para Lisboa apenas há duas semanas, para ficar mais perto da filha que tinha um bebé, que sofria de problemas respiratórios e que ia ser operado dentro de dias e que ela precisava de ajudar porque senão não se ficava a sentir bem mas que sentia saudades das suas amigas do croché. Entretanto vou perguntar a outra senhora. Responde-me, cito e peço desculpa pelo palavreado, "Não falo com filhos da puta". Desconcertado, pergunto a outra pessoa, nem me lembro se homem se mulher, mas nunca me irei esquecer das palavras que me disse: "Já devias ter saído há duas estações atrás". Saio na próxima e passa por mim a personagem mais bizarra que já apanhei no metro de Lisboa - uma senhora com um saco de pão na mão a dizer às pessoas para terem cuidado com os cegos com cães porque não são mesmo cegos e usam o cão para roubar pão. Pela segunda vez que encontrei essa senhora, pois pela segunda vez ela me pôs um sorriso na cara.

Entrei no metro e cheguei ao sítio devido. A pessoa à minha espera tinha um ar desesperado. Perfeitamente normal, considerando o meu atraso de meia-hora. TM