19/01/11

As botas de Judas

Ofereceram-me umas botas no Natal que passou. Castanhas, bonitas, todas pimponas e prontas para longas horas de passeio ou, vá lá, os cinco minutos entre a paragem do autocarro e a Faculdade de Letras. Foram, provavelmente, as peças de calçado que mais gostei de receber nos últimos tempos. Até, claro, uma maré de azar me inundar como se não houvesse amanhã.

Começou assim que as abri. Sem saber sequer que loja era aquela cujo saco estava tão bem e estrategicamente posicionado debaixo da árvore de Natal, quando abri o embrulho, foi uma surpresa bastante agradável. Durante cerca de dois minutos, entenda-se, até que as experimentei. O atacador do lado esquerdo partiu-se. Lindo. As botas estavam um número acima, o que demonstra quão ridiculamente pequenos são os meus pés. Claro.

Como qualquer pessoa a quem oferecem coisas que não servem, o dia 26 de Dezembro é dia de trocas. E lá fui, para uma superfície comercial a abarrotar de queixosos, tentar trocar as belas botas por umas que me servissem e não tivessem os atacadores a apodrecer lentamente. Havia umas um número abaixo que, ainda assim, me estavam um bocadinho largas, mas tiveram mesmo que ser essas porque é o número mínimo para homem. Troquei as botas e ainda me muni de um par de palmilhas para ficar mais confortável, experimentadinhas na loja e tudo. Parecia estar tudo a correr bem. Até que no dia seguinte recomeçou o terror.

Fui cortar o cabelo, como costumo fazer, aliás, cerca de uma vez por mês. Na viagem de ida e na viagem de regresso, tenho a dizer que os meus pés iam morrendo. Gritaram, eu quase que os ouvi. Resultado: duas enormes bolhas rebentadas, uma em cada pé, a jorrar sangue. Ainda as experimentei mais umas vezes, mas era uma tortura cada vez que as calçava. Até que: "olha lá, porque é que não tiras as palmilhas? Se calhar é disso", disseram. A alegria, a felicidade! Posso usar as minhas botas, finalmente, sem dores nem mutilações nos pés! Descobri, entretanto, que não me dá jeito conduzir com essas botas nas aulas de condução, mas ao menos não tenho aulas todos os dias, dá para calçar quando não as tenho.

Até que, domingo passado, a caminho do Campo Pequeno, o atacador do lado esquerdo se rebentou. Todinho. Várias vezes. Pimbas! TM